Catolicismo e Protestantismo (II)

Prezados leitores, Salve Maria Santíssima!
Publicamos agora o segundo capítulo do estudo "Catolicismo e Protestantismo", para a defesa da Fé.

Para ver a Parte 1 clique aqui: http://joaopaulogavi.blogspot.com/2011/07/catolicismo-e-protestantismo.html


II) Mas se a Igreja católica foi fundada por Cristo, como ela pôde cometer tantas atrocidades na Idade Média? Se Cristo criou a Igreja, por que esta Igreja matou tanto em nome de Deus? Se a Igreja não erra, por que errou tanto em tempos passados?

A Igreja é infalível porque a doutrina por ela ensinada provém do próprio Deus, e Deus não pode mentir. Toda a Verdade revelada por Deus pelos profetas, patriarcas, pelos apóstolos e pelo próprio Cristo, ao encarnar-se, foi confiada à Igreja, para que ela seja o “Depósito da Fé”, a Guardiã da Verdade. Portanto, a Igreja é infalível em sua doutrina, em sua verdade teológica. Em outras matérias ela não emite juízos, e, caso os emita, pode falhar, pois Deus não garante infabilidade em assuntos humanos. A santidade da Igreja está em sua fundação divina, em sua doutrina, em seus sacramentos, em sua assistência. A Igreja foi fundada por Cristo, é guiada pelo Espírito Santo, é santa e fonte de santificação.

Entretanto, a Igreja é divina e humana. Do lado aberto de Cristo, quando Lhe feriram na Cruz, jorrou água e sangue: água porque a Igreja é humana (feita de homens); sangue porque a Igreja é divina (fundada por Cristo, guiada pelo Espírito Santo e depositária das verdades da revelação). Os homens podem errar, mas a doutrina ensinada, jamais. O fato de alguns ensinarem errado e praticarem errado não faz da Igreja pecaminosa, nem torna desnecessário a serventia do clero. O clero e o povo pertencem à Igreja, mas não são a Igreja. O clero e o povo fazem parte do Corpo Místico de Cristo (a Igreja), mas são só membros dele; a alma da Igreja, que lhe vivifica e lhe dá santidade, é o Espírito Santo, e é justamente por isto que a Igreja não perecerá jamais. Portanto, em nada a missão da Igreja é prejudicada por causa daqueles que não vivem conforme a Fé. Os sacramentos, a doutrina, o magistério e todos os dons da Igreja continuam a possuir o mesmo efeito e a mesma necessidade, mesmo que alguém não seja exemplo de vida cristã ao exercer a autoridade que lhe foi confiada. Somos católicos não porque confiamos na santidade do padre, do Bispo ou de um leigo qualquer, mas porque estamos convencidos da veracidade da doutrina, da necessidade dos sacramentos, da submissão ao magistério, pelo qual Cristo nos guia à salvação. Somos católicos porque, sem Fé, é impossível agradar a Deus (cf. Heb I, 6), e esta é a Fé que agrada a Deus, a Fé verdadeira e íntegra. Somos católicos porque só se salva quem está unido a Deus nesta vida, servindo isto de critério para que mereçamos viver a vida eterna com Ele após a morte. Independente dos erros, dos escândalos, dos abusos ou das falsidades cometidas por alguns, isto não fere a veracidade, necessidade, santidade e plenitude da Igreja católica apostólica romana.

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Na Idade Média, dizia o Papa Leão XIII, a filosofia que regia as nações era o Evangelho. Basta se comparar o Mundo Medieval com as sociedades que lhe sucederam. Basta comparar a filosofia que reinou em cada período para perceber quem estava à frente do povo em cada época.

Muito do que se diz sobre a Idade Média nos livros, nos filmes, nas escolas e faculdades provém de uma ignorância profunda da matéria e do desejo de propositadamente falsear o que se ensina. Querem analisar a Idade Média comparando-a com a nossa época, o que jamais dá frutos. Nunca se analisa um período com os olhos do presente, pois em cada época a mentalidade é diferente. Por exemplo, na Idade Média era totalmente natural o uso de tortura para que se confessasse um crime, já que não haviam métodos de se comprovar um delito. Na impossibilidade de se demonstrar que alguém cometeu um crime, só haviam duas formas de se provar: ou testemunhando o crime, ou torturando um suspeito, para que ele confessasse.

A tortura é antiguíssima, e desde o Egito Antigo era usada: não para se conseguir uma confissão, mas para se castigar aqueles que insultavam o faraó. Os romanos usavam a tortura e, no século XII, quando a Universidade de Bolonha passa a estudar o Direito romano, o homem medieval encontra um argumento sólido para utilizar e justificar a tortura: se os romanos usaram, então ela é legítima. Se os sábios romanos usavam tortura, o que restava aos medievais era imitá-los. Praticamente todo aquele que acusa de “crueldade” a Inquisição nem se deu ao trabalho de investigar o assunto para descobrir esse fator: a tortura era aceitável pelos intelectuais, e muito bem vinda pelo povo.

No século XIII foi criada a Inquisição, que significa “inquérito”. A Inquisição foi criada para evitar que os homens comuns fizessem justiça com as próprias mãos. O mandamento da Lei diz “tu não matarás”. Ao homem comum não é dado querer fazer justiça, mas ao Estado é permitido, porque tem autoridade, competência e imparcialidade ao julgar um acusado.

Neste mesmo século, a heresia cátara se espalhou sobre a França e outras regiões. Os cátaros eram hereges influenciados pelo misticismo esotérico, e acreditava ser a matéria maligna e criada pelo diabol. E se Deus não criou a matéria, mas o diabo, resta-nos apenas procurar a libertação deste mundo. Por isso, os cátaros ensinavam que o homem não devia mais se reproduzir, e matavam mulheres grávidas com punhaladas no ventre. Isso causou a revolta do povo, que começou a fazer justiça por conta própria, pelo linchamento.

Foi para evitar que se cometesse algum engano ou injustiça que a Inquisição foi criada. Primeiro, o Bispo chegava na cidade e instaurava o “tempo de graça”, onde garantia o perdão a todos os criminosos que estivessem arrependidos. Depois que este tempo passava, os que quisessem denunciar um crime se aproximavam das autoridades eclesiásticas. Era feita uma investigação e usava-se de tortura nos acusados. A tortura acontecia em presença de um médico, não poderia tirar sangue e nem ultrapassar o prazo de meia hora.

Numa recente pesquisa, documentou-se 125 mil processos inquisitoriais. Desse todo, apenas 2% chegaram ao fim, o que quer dizer que só esta pequena quantia chegou a ter uma sentença. E de todos os processos, obviamente nem todos eram de pena máxima.

O objetivo da Inquisição era a conversão. O Estado punia para vingar um crime e proteger a população—ou então, mais frequentemente, para proteger o próprio poder político do soberano. A Igreja punia para converter. Por isso até hoje as prisões são chamadas de “penitenciárias”, pois na Idade Média eram nos conventos que se prendiam os hereges: para fazê-los estudar e rezar. Se aqueles que matam o corpo merecem uma severa punição, aqueles que matam a alma mais ainda. Cometer um crime contra a religião, na Idade Média, causava a revolta de toda a população. A religião fazia parte da alma da sociedade medieval, e Deus era o centro de tudo. A Inquisição era um tribunal religioso, e, apesar de sentenciar, quem punia era o Estado, e este, por sua vez, também se ocupava de julgar e punir crimes puramente civis. Os hereges (negadores de uma ou mais verdades da Igreja) eram julgados pela Inquisição e depois entregues para que o Estado se ocupasse em dar a punição, pois “Ecclesia abhorret sanguinem”, isto é, “a Igreja tem horror a sangue”. A Inquisição julgava, mas a punição sempre ficou a cargo do braço secular.

Muitos dos crimes e “torturas” atribuídos à Inquisição católica—e medieval—são, na verdade, pertencentes à Inquisição Régia, isto é, a Inquisição de Portugal e Espanha, que estava sob tutela dos seus respectivos monarcas. Estes escolhiam os inquisidores ao próprio gosto, usando do sistema inquisitorial não em defesa da Fé, mas, na maioria absoluta das vezes, para concentrar poder e proteger a Monarquia. Inclusive vale lembrar que, se a Inquisição, originariamente, era um tribunal para julgar crimes contra a Fé, só podia ser punido quem tinha a Fé, isto é, os católicos. Nenhum judeu, muçulmano ou pagão foi punido pela Inquisição católica, que só abrangia o povo católico. Se houve algum exagero ou punições a não-católicos, não foi por parte da Inquisição católica, mas da Inquisição Régia. Ademais, a própria Inquisição Régia se ocupada de punir judaizantes, ou seja, aqueles que recebiam o batismo e continuavam a praticar o Judaísmo ocultamente, algo muito grave e escandaloso para a época, tendo em vista a seriedade que implicava o Batismo. Punir judaizantes não é o mesmo que punir judeus nunca antes convertidos.

Poucas vezes foi usada a pena de morte na Idade Média. Aqueles que acusam que foram mortas “milhões de bruxas” se baseiam em dados mentirosos, já que onde mais se matou bruxas foi na Alemanha, Suíça e França, países já dominados pela Reforma Protestante, num período onde a Idade Média estava no seu crepúsculo. Em Toulouse, na França, o maior centro de hereges do Medievo, em cem anos só se usou da pena de morte 42 vezes. É preciso tomar muito cuidado com o que se lê em certos livros, que caluniam a Igreja de Cristo sem se basear na verdade.

A Idade Média já foi inclusive chamada de “Idade das Trevas”, mas hoje esse conceito está superado. O único que vê trevas na época em que o Evangelho dominou a sociedade é o demônio. Os pensadores renascentistas diziam que a Idade Média foi época de Trevas porque a Fé guiou o mundo, e o paganismo foi destruído, junto à sua cultura imoral. Os protestantes acusavam-na de Trevas porque foi a época da Igreja católica. Os reis acusavam-na de Trevas porque na Idade Média não haviam Monarquias nacionais absolutistas. Os racionalistas do século XVIII chamavam-na de Trevas porque a razão esteve submissa à Fé. Todos os inimigos da Igreja tinham um objetivo ao acusar a Idade Média, independente se o período foi bom ou não.

E se acusam a Igreja de dominar o pensamento, esquecem que foi ela que criou escolas ao lado das paróquias e dos mosteiros, e as universidades, no século XI. Na universidade de Oxford, por exemplo, haviam 20 mil alunos de uma só vez. Jovens do mundo todo viajavam para estudar, e ganhavam a vida trabalhando a copiar livros para a biblioteca. Na Idade Média, a tese de doutorado de alguém era feita na presença da universidade toda, e consistia num debate. Todo aquele que soubesse um argumento contra a tese poderia dizê-lo. Se hoje só existe uma banca examinadora nas universidades, na Idade Média, qualquer um poderia derrubar a tese de alguém.

As aulas eram divididas em “lectio” (leitura) e “disputatio” (disputa). Os alunos liam a lição com o professor e depois disputavam entre si se a aprenderam direito, num debate. Quem tenta “impôr” uma verdade não permitira que os alunos debatessem nas escolas. E isso aconteceu nas escolas católicas.

Se a Idade Média foi época de Trevas, não poderia ter construído tão belas catedrais. A catedral de Colônia, na Alemanha, resistiu até mesmo a um bombardeio na II Guerra. Os majestosos vitrais representavam o desejo de se buscar luz. O objetivo da Idade Média—e da Igreja—era fazer catedrais nas almas, para que a luz de Cristo lhes preenchessem. O canto gregoriano também é fruto desta época. A Escolástica, em Tomás de Aquino, teve seu auge. A explicação de Santo Agostinho sobre o tempo foi elogiada até mesmo nos livros de física moderna.

Se acusam a Igreja de condenar Galileu por dizer que é a terra que gira em torno do sol, não percebem que na teoria de Galileu estava escondida uma doutrina esotérica. O cientista dizia que o sol irradiava uma energia que iluminava todos os seres, como se fosse uma energia mística. Na época, acreditava-se no sistema ptolomaico, onde a terra ocupava o centro. Quem afirmou que era o sol o centro do universo pela primeira vez foi o Bispo Oresme, de Lisieux, dois séculos e meio antes de Galileu, e mais tarde, o monge Nicolau Copérnico. Mas não haviam provas que convencessem os cardeais. Quem provou a idéia de Copérnico foi Galileu; mas por causa dos motivos místicos dele, preferiu-se condená-lo. Aliás, o cientista Johannes Keppler foi perseguidos pelos luteranos, encontrando abrigo em terras católicas. Quem negou ser o sol o centro do universo foi Lutero; a Igreja condenou Galileu por causa da explicação falsa que ele deu à tese do heliocentrismo.

Deve-se estudar muito bem a Idade Média para evitar tantos enganos. Dizem que a Igreja ensinou ser a terra plana, mas não percebem que, nas esculturas medievais, em muitas representações Cristo Ele está segurando o globo terrestre na mão, representando que é o Senhor do mundo.

Dizem coisas terríveis da Igreja, mas esquecem os horrores ensinados pelo herege Lutero. Consideram Giordano Bruno um injustiçado pela Inquisição; mas não contam que ele negou que Cristo era Deus e afirmou que cada ser era divino, defendendo a magia. A ele a maçonaria erigiu um monumento.

Mesmo se a Idade Média fosse todos os horrores com que a narram nos livros, isso não tiraria o mérito que tem a Igreja católica. Não é o exemplo ou a virtude das pessoas que faz a doutrina; mas é a índole da doutrina que causa bons exemplos. Não podemos usar de alguns casos para elaborar um juízo pleno sobre a Igreja. Se listarem alguns crimes, também devemos ser honestos e listar muitos méritos à Igreja. Se a Igreja é feita do elemento humano, é óbvio que nela nem sempre haverão pessoas boas, pois o homem sempre tende ao pecado, já que, na terra, ele está sujeito a cair em tentação. O homem pecou; mas isto não faz de Deus—Criador do homem—pecador também. Do mesmo modo, se um católico peca, isso não faz da Igreja pecaminosa. Pensar deste modo é ser injusto e desonesto.


Fonte: http://www.saopiov.org/2009/02/catolicismo-e-protestantismo-ii.html#ixzz1RpJDndpK